Nos últimos anos, o paradigma de tratamento do mieloma múltiplo (MM) tem vindo a mudar de forma muito significativa, com novas classes de fármacos a serem sucessivamente aprovadas, o que se reflete em prognósticos completamente diferentes, com tempos de resposta mais prolongados e mais qualidade de vida dentro desse tempo.
“Nas próximas guidelines de tratamento do MM, a serem publicadas a breve trecho, “já vamos ter doentes triplamente expostos, que levantam desafios em termos de atuação”, referiu a Dr.ª Adriana Roque, hematologista da ULS Coimbra e coordenadora do Grupo Português de Mieloma Múltiplo.
A palestrante do simpósio promovido pela Janssen na AEOP17 sublinhou que “face à falha na resposta há necessidade de novos alvos terapêuticos e novos mecanismos de ação em MM”. É o caso dos anticorpos biespecíficos (BiTEs), uma nova classe terapêutica no MM, em que se insere o talquetamab (com foco de ação no GPRC5D).
No que respeita ao talquetamab, os tudos de vida real LocoMMotion e MoMMent abriram caminho a estudos de fase 1 e 2, como o MonumenTAL-1. O talquetamab (subcutâneo) foi aprovado pela EMA em 21/08/2023 e está indicado em monoterapia para o tratamento de doentes adultos com MM em recaída e refratário, que receberam pelo menos três terapêuticas anteriores (incluindo um agente imunomodulador, um inibidor do proteassoma, um anticorpo anti-CD38) e que demonstraram progressão da doença durante a última terapêutica.
No contexto dos BiTEs, a Dr.ª Adriana Roque salientou que “a articulação entre equipas médicas e de enfermagem tem que ser ainda mais sólida no contexto de administração destas novas classes terapêuticas”.
Experiência do IPO Lisboa com talquetamab
6 doentes tratados com talquetamab
CRS – 0
ICANS 1 mas não confirmado
Considerações para início do tratamento com talquetamab
A enfermeira Elsa Pedroso, do IPO Lisboa, explicitou os critérios para iniciar tratamento com talquetamab.
A saber:
- Garantir que o doente está sem infeção ativa documentada;
- O medicamento é administrado pela via subcutânea;
- Hospitalização recomendada durante a semana de escalonamento;
- Não esquecer pré-medicação com corticosteroídes, anti-histamínicos e antipiréticos;
- Garantir a disponibilização de tocilizumab na farmácia para gestão de CRS;
- Os efeitos começam a sentir-se 24h-36h após a 1.ª administração;
- Aplicação questionário ICE antes da 1.ª administração;
- Fornecer cartão ao doente (com principais sintomas de alerta).