O papel dos patient-reported outcomes (PROs) na organização e prestação de cuidados de saúde foi o foco da primeira sessão educacional da AEOP17, moderada pelas enfermeiras oncologistas Cristina Lacerda e Ana Almeida, dos IPO de Lisboa e do Porto, respetivamente.
Neste âmbito, a enfermeira Liliana Amorim, do IPO do Porto, partilhou com os colegas o impacto da consulta de reabilitação sexual na pessoa com doença ginecológica oncológica, começando por explicar que “estas mulheres chegam-nos geralmente muito ansiosas, inseguras, envergonhadas e com baixa autoestima e após a nossa intervenção referem sentir-se mais confiantes, motivadas, seguras, expectantes e acompanhadas”.
São objetivos desta consulta e passos da intervenção de enfermagem:
– Compreender como se situa quanto à sua sexualidade;
– Encorajar o envolvimento do cônjuge;
– Incentivar ao reinício da atividade/manutenção da atividade sexual;
– Perceber se é sexualmente ativa;
– Encorajar a expressão de sentimentos e expetativas relativas à função sexual;
– Promover a vigilância ginecológica;
– Avaliar a função sexual antes, durante e após os tratamentos de radioterapia;
– Encorajar e identificar formas alternativas de função sexual;
– Educar sobre prevenção de estenose vaginal e reeducação da MAP;
– Identificar disfunções sexuais, que possam já existir;
– Identificar estratégias de resolução das disfunções sexuais;
– Sugerir acompanhamento psicológico à mulher e/ou casal e consulta de Oncosexologia.
Os ganhos a destacar, segundo Liliana Amorim, contemplam a estratégia educacional eficaz, a capacitação para a diferenciação e a diminuição de complicações como incontinência urinária, secura vaginal, dispareunia ou atrofia vaginal, entre outras.
Estudo sobre sintomas de fim de vida em pessoas com glioblastoma
Identificar os principais sinais e sintomas presentes nos últimos sete dias de vida do doente com glioblastoma num serviço de neurologia oncológico foi o objetivo principal de um estudo descritivo e retrospetivo, cujos resultados foram apresentados na Figueira da Foz pela enfermeira do IPO de Lisboa, Liliana Vasconcelos.
De acordo com a palestrante, “a realização de estudos de investigação nesta área com amostras mais representativas é fundamental, uma vez que a maior parte dos estudos encontrados focam-se na população oncológica no geral”.
Para esta população em concreto, referiu, “é importante abordar antecipadamente o planeamento de cuidados no fim de vida, visto que se verifica a diminuição do nível de consciência e alterações comunicacionais à medida que a doença progride”. Tal como descrito na literatura, “a articulação precoce com equipas de cuidados paliativos é importante para a prevenção e tratamento eficaz de sintomas, acompanhamento psicossocial e promoção de qualidade de vida”, acrescentou a enfermeira, concluindo que “a comunicação à família dos sintomas que podem surgir no fim de vida permite capacitá-los para as mudanças que vão ocorrer e o registo dos sinais e sintomas apresentados, bem como as intervenções realizadas e avaliação da sua eficácia, são essenciais para garantir a qualidade dos cuidados prestados no fim de vida”.
Papel do enfermeiro de reabilitação e PROMs como visão integradora
“Independência funcional após cirurgia oncológica: Patient-Reported Outcomes Measures (PROMs) como visão integradora” foi o título da apresentação de José Moreira, da Universidade Évora, que explicou que os PROMs são instrumentos que permitem obter informação baseada na perspetiva do doente; medem objetivamente o estado de saúde; são fundamentais no desenvolvimento de conhecimento, pela análise da informação sobre o impacto da doença e tratamento com base na autoperceção dos destinatários.
Partindo da questão “A intervenção do Enfermeiro de Reabilitação (ER) – integrado numa equipa multidisciplinar – permite otimizar a capacidade funcional e autocuidado do doente com cancro da cabeça e pescoço (CCP) internado para cirurgia?”, o investigador levou a cabo um estudo observacional de coorte retrospetivo com o objetivo principal de comparar o grau de dependência dos doentes com CCP submetidos a cirurgia em que houve intervenção do ER versus cuidados generalizados de saúde sem a intervenção do ER, no momento da alta. Como objetivo específico tinha a análise do papel dos fatores de confundimento no efeito da intervenção ER no grau de dependência do doente e a avaliação do impacto nos dias de internamento do doente com CCP submetido a cirurgia quando se verifica intervenção do ER.
A investigação concluiu que “a intervenção do ER em doentes oncológicos é fundamental, minimiza o grau de dependência do doente com CCP submetido a cirurgia, otimiza a capacidade funcional e reduz os dias de Internamento”, referiu José Moreira.
A terminar, o investigador lançou alguns pontos para reflexão em torno dos PROMs, como a sua capacidade de ajudarem os decisores a adotar medidas mais dirigidas, com o objetivo de mitigar a carga associada a esta doença; a melhor qualidade relacionada à saúde, melhor prognóstico, e mais anos de vida com qualidade resultantes da participação num programa; ou a seleção de forma criteriosa dos diferentes outcomes na valorização da perspetiva do doente.