Um participado debate em torno das figuras do enfermeiro gestor de caso e do nurse navigator pontou a tarde do segundo dia de trabalhos na AEOP, no âmbito de uma sessão que contou com o apoio da Novartis e que foi moderada por Paula Amorim e Rosário Barros, enfermeiras oncologistas da ULS Alto Minho.
Coube a Cátia Afonso, da Fundação Champalimaud, apresentar as vantagens da experiência da instituição com o modelo de enfermeiro gestor de caso, começando por explicar que “o case management em enfermagem é um modelo holístico, centrado na pessoa e estabelecido numa relação de parceria, e consiste num processo de avaliação, planeamento, facilitação e coordenação de cuidados, e avaliação e advocacia de opções e serviços para responder às necessidades de saúde abrangentes de uma pessoa e sua família, através da comunicação e da mobilização de recursos disponíveis para promover a segurança e a qualidade dos cuidados”. Este modelo é “utilizado como um veículo promotor do bem-estar e da autonomia da pessoa que experiencia uma situação complexa de saúde, através da comunicação, advocacia, educação e identificação e eliminação de barreiras aos cuidados”, acrescentou.
No que respeita ao domínio de intervenção do enfermeiro gestor de caso, a palestrante elencou alguns aspetos incontornáveis, como a identificação e eliminação de barreiras aos cuidados e identificação de recursos na comunidade, advocacia da pessoa, articulação multidisciplinar e coordenação de cuidados, rastreio da pessoa ao longo da trajetória de cuidados, coordenação da equipa multidisciplinar, monitorização do processo de cuidados e avaliação de necessidades, educação para a tomada de decisão e suporte psicossocial/emocional e aconselhamento sistemático.
O enfermeiro gestor de caso “é o profissional que tem a ‘braçadeira de capitão de equipa’ e que é a ‘cola’ no seio da equipa multidisciplinar, sumarizou Cátia Afonso, adiantando que esta metodologia tem outcomes comprovados ao nível do acesso aos cuidados de saúde (melhoria no acesso oportuno aos cuidados de saúde, diminuição dos encargos financeiros com a doença, por exemplo), PROs e dos profissionais (em termos de visibilidade, satisfação e liderança).
Por sua vez, Marisa Pinheiro Falé, do Hospital Luz Lisboa, partilhou a experiência do nurse navigator em oncologia, esclarecendo que esta figura consiste num “enfermeiro com experiência em oncologia que integra a equipa multidisciplinar, fornece suporte e educação, gere a complexidade do diagnóstico, coordena os cuidados especializados, nas fases de diagnóstico e tratamento, faz articulação com a equipa multidisciplinar, acompanha o doente e família em todo o percurso da doença oncológica, antecipando e respondendo às suas necessidades e promovendo suporte emocional ao longo de todo o percurso de doença.
São objetivos do modelo de intervenção reduzir os internamentos e as vindas à urgência; melhorar a coordenação e a qualidade dos cuidados; promover a referenciação dos doentes para centros especializados; reduzir tempos de espera desde a suspeita até à confirmação diagnóstica, melhorar a satisfação dos doentes, facilitar decisões partilhadas entre a equipa de saúde, o doente e família, que têm impacto nas opções e decisões do doente; reduzir os encargos financeiros do sistema de saúde; e reduzir o stress dos doentes.
De acordo com Rosário Barros, “é muito mais o que une estas duas metodologias, do que o que as separa” e “ambas são cruciais na melhoria da experiência do doente ao longo da sua jornada e da eficiência do serviço de saúde como um todo”.
A enfermeira resumiu aquele que considera que poderá vir a ser o impacto de cada uma destas duas metodologias à luz da nova organização dos cuidados, “a que advém do movimento da reorganização do SNS, com 31 novas ULS que se juntam às oito já existentes”.
No entender de Rosário Barros, ambas as metodologias se enquadram bastante bem no conceito de ULS, em que a organização tem por objetivo facilitar processos e colocar o cidadão no centro dos cuidados. A enfermeira não duvida que “a junção de uma destas duas metodologias à figura do enfermeiro de família será o catalisador de uma verdadeira integração de cuidados”. Só falta, concluiu, “convencer os decisores a investir numa destas metodologias, tal como fez com o enfermeiro de família”.